A importância do encontro de Matuê e Raffa Moreira


O ser humano tem dificuldades de conviver em conjunto, harmônia. Estamos sempre nos dividindo, estamos sempre nos colocando em posição de ruptura quando não entendemos o diferente que está ao nosso lado. Cada indivíduo possui sua característica, somos diferentes, gostos opostos, modos de visualizar e sentir o mundo com a especificidade do local e trajetória que viemos. Mas, entendemos que a divisão prejudica primeiramente a possibilidade de construir relações mais sólidas do que meramente reagir ao diferente de modo que nada aproveitamos.

O cenário do rap brasileiro tem experimentado o diferente, numa variação de nichos, com muitos talentos, isso não podemos negar. Sempre ouvimos sobre a falta de união, mas pode ser que pouco refletimos sobre o que isso significa na prática. Estamos sempre de olho no cenário americano, nos acostumamos a ver o Lil Wayne com DrakeRick Ross com JAY-ZKanye West com Pusha TFuture com Lil BabyNas com DJ KhaledGunna com Young Thug. A lista é imensa, se você pensar um pouco, vai conseguir colocar em imagens os grandes nomes trabalhando com grandes nomes. Você vai conseguir lembrar rappers novatos trabalhando com rappers veteranos. Artistas pouco conhecidos, mas com uma carreira sólida, trabalhando com grandes nomes.

Nós, como ouvintes do cenário americano, já nos acostumamos com isso, certo? Já naturalizamos ver imagens dos rappers presenteando uns aos outros com joias, carros, etc, com frequência, correto? Se olharmos apenas na ótica de ostentação, que é o que acontece muito, não vamos conseguir identificar que dentro do glamour, tem relação. E essa relação construída, que vai de uma mera participação, turnê juntos, ou num gesto de fornecer um presente, eles fazem como parceiros de profissão. Mais do que tudo, esses artistas compartilhando vivências, são parceiros de profissão.

Desse modo, entendemos essa próxima relação que eles possuem. Ao passo, que nos acostumamos a ver a riqueza que fica nítida em nosso olhos. E não queremos comparar Brasil com Estados Unidos, é outro mundo, vivemos outra realidade, mas se você está atento, sabe que esse não é o ponto.

Um artista estourado,é bom para o rap. Mas isso não constrói um cenário. Nos arredores das conversas dos próprios rappers brasileiros, sempre ouvimos que não há união. Sempre escutamos que um artista grande não coloca um artista novo na sua faixa. Certo, sempre ouvimos isso, ok? E essa queixa, faz muito sentido. Nos acostumamos a ver o cenário americano misturado, todo mundo colaborando com todo mundo. E qual é o maior trunfo dessa união? O rap game lá é estruturalmente forte. Eles conseguem fortalecer o próprio movimento ao conseguirem unir vários nichos e fortalecer diferentes vertentes. Um cara grande quando participa de uma faixa de um rapper não tão grande, ele fortalece o rap de forma interna. E o cenário do rap fortalecido de forma interna, é bom para todos, tanto de quem está em cima pelo simples fato de aumentar o escopo e possibilidade de evolução, quanto para quem começa e está presente dentro de uma estrutura sólida que possibilita progresso para muitos.

Dessa forma, o encontro do Matuê e Raffa Moreira foi uma alegria para quem quer ver o progresso do nosso rap. Matue com todo mérito e qualidade construiu o seu caminho e eleva o nosso cenário. O Raffa é um trabalhador nato, ele sabe o tipo de jogo que joga e percorre seu próprio caminho, com sabedoria e consistência. E o que acontece quando esses dois se unem? Eles estão apenas se fortalecendo? Não, eles estão criando um poder que apenas sozinho, não é possível. A união cria um poder que pode não ser sentido logo de inicio, mas a longo prazo será nítido.

Assim, qual é o sentido de divisão e pouca colaboração dentro de uma estrutura que é única? Se somos parceiros de trabalho e a minha vitória fortalece o local que compartilhamos, não é mais inteligente a união de muitos para engrandecer e fortificar o ambiente que habitamos?

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